segunda-feira, 28 de dezembro de 2009


PIETRO

(Pietro Mello)

Ano Novo

Esta manhã João se levantou, lavou o rosto, tomou seu copo de café matinal, espiou os filhos que ainda dormiam, beijou a esposa e foi trabalhar. O dia parecia normal, não fosse por um detalhe: antes de sair, o pedreiro arrancou a última folhinha do calendário grudado à geladeira e sorriu, era 31 de dezembro.

Este ano foi duro na vida de João. A construção de um grande prédio na cidade parecia não acabar mais. Tijolo em cima de tijolo e uma quantidade interminável de pedras davam a sensação de que a obra nunca chegaria ao fim. Porém, ao acordar e confirmar que era o último dia do mês de dezembro, o construtor respirou fundo e encheu seu peito de esperanças.

Ao chegar à construção, João estava feliz. Subiu as escadas do prédio assobiando, pegou sua pá cantando e sujou seu rosto de cimento contando anedotas. Almoçou a fria comida sentindo um sabor inigualável. Às cinco da tarde, olhou no relógio empoeirado e viu que ainda faltavam três horas para terminar o expediente. O céu foi escurecendo e as oito horas chegaram. João desceu as escadas cansado, mas ainda assim animado; abriu os braços e disse aos colegas que os esperava logo mais à noite em sua casa. Há dois meses, o homem já vinha convidando a todos a passarem a virada do ano com ele. Guardou um bom dinheiro para que fizessem uma bela ceia e pediu à mulher que preparasse um belo jantar. Chegando em casa, o pedreiro deu um grande beijo na esposa e abraçou os filhos. Tomou banho, colocou sua melhor roupa, penteou os cabelos e engraxou os sapatos. Os amigos foram chegando um a um e a casa foi se enchendo aos poucos.

Naquela noite o pedreiro bebeu, fumou, dançou, comeu e gargalhou. A meia noite estava próxima, e a euforia da chegada de um novo ano alegrava, cada vez mais, o coração do homem.

Dez

Nove

Oito

Sete

Seis

Cinco

Quatro

Três

Dois

Um

O ano novo chegou. João se despediu de todos e foi dormir, estava cansado e teria muito serviço no dia seguinte. Aquele seria um ano de muito trabalho.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


MARILIA
(Marilia Mayer)

Olhava daquela janela e o que via eram sorrisos, trocas, juntamente com o isqueiro para acender mais um cigarro. Aqueles olhos vermelhos que por vezes metiam medo eram os que choravam por piedade ao serem expulsos de casa. Aquelas pessoas que todos os dias esperavam seus pares sentadas no banco daquela praça escura e sem graça eram as mesmas que trabalhavam de sol a sol para conseguir um prato de comida. Estavam cansados de serem pegos, presos, maltratados e mesmo assim continuavam. Comodismo? Talvez; mas o que se sabe, ou melhor, o que se diz é que quem comandava o tráfico era o filho do presidente. Presidente que tentou colocar um pouco de ordem no país e que algumas raras vezes conseguiu, não conseguira fazer isso ao menos uma vez em sua casa. Corrompidos pelo sistema.Diz-se que era revoltado com o pai, o tal presidente, porque dedicava mais seu tempo para discursos para o país do que para um Bom Dia à seu filho. A mãe? Dizem que o casamento era fachada e que ela acudia o filho toda vez que ele chegava de porre em casa enquanto o pai dormia porque estava cansado.Nunca saberá se isso é verdade, se é mito. o que se sabe com certeza, é que aquelas pessoas sentadas em volta daquela fogueira, falando em voz alta e bebendo mais uma garrafa de vodca eram as que mais necessitavam de uma ajuda, as que mais trabalhavam, as que mais queriam uma mudança. Mas como tudo tornou-se normal, até mesmo a infelicidade, elas tentavam se acostumar a viver sobre os olhares suspeitos da vizinhança.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MISTO QUENTE

Galera, depois dessa longa parada do blog, porem necessaria, estamos voltando com tudo. Apartir de hoje os textos continuarao sendo diarios e com novos escritores...entao sejam bem vindos de volta.Abraços a todos.




MISTO QUENTE

Que chova sobre nós entao.

Ontem tivi uma experiencia que com certeza me marcou muito e vou me lembrar por muito tempo. Eu vi um longa metragem de uma galera de cachoeira gente, é isso mesmo, de Cachoeira do Sul, cidade do interior do Rio grande do sul.E ele se chama CHUVA SOBRE NÓS, lindo nome.

Alem disso o filme é excelente, mostrando uma historia emocionante e deixando uma mensagem que realmente tocou o coraçao das mais de 500 pessoas que estavam na estreia. Essas pessoas com certeza sairam como eu de lá, surpreendidos, encantados e acima de tudo emocionados.
O filme conta a historia da personal trainner Maria Paula, que descobre que está gravida ao mesmo tempo que está com cancer de mama, entao ela tem que optar, ou gera esse filho que ela tanto sonhou, ou faz o tratamento do cancer, que ainda encontra-se pequeno porem em ascensão.Ela encontra forças nas suas melhores amigas desde a infancia e no seu marido que mostram ser pessoas fundamentais para ajuda-la na luta contra a doença.

Outra coisa que me deixou muito contente, foi que a verba arrecadada na estreia, mais de mil reais, foi revertida para o IMAMA. Belissima açao daa equipe do filme.
O longa é do premiado diretor cachoeirense Cristianno Caetano, e tem como atores principais Francine Schumaker,Carolina Alberto , Gabriela Carpes, Rafael Machado e Cleo Moretti.
Bom pessoal fica aqui minha dica de cinema, longa metragem, nacional e mais que isso da nossa cidade, com nossos talentos e que TALENTOS. Chuva Sobre nós, com certeza voce vai se emocionar.




sexta-feira, 4 de dezembro de 2009


FERRONY

(Alessandro Ferrony)


O declínio do underground (que aqui nunca existiu)


Pensei em escrever um pouco sobre o underground, afinal, este é meu chão, é daonde eu vim, rato de porão sim, senhores, com muito orgulho e devoção, embora um tanto fora de forma e com pouco excitação neste momento para protagonizar num cenário que domino. E, num exercício buscando fazer um apanhado das coisas positivas que constituem esse verdadeiro estilo de vida, vi que se fosse empilhar minhas experiências nas próximas linhas, meus escritos cairiam num saudosismo barato. Algo que aprecio, é verdade, mas às vezes evito. E é isso que no momento venho tentando, ou evitando.
Por isso tento fugir do personagem que sempre fui pra poder escrever como um voyeur. Não vai ser fácil... hoje em dia o underground se tornou grife. Bom por um lado (para alguns) porque traz à tona o talento de muita gente, bandas, artistas, agitadores e defensores da propagação dessa que é também uma visão de mundo. Mas não são todos aqueles que estão satisfeitos com isso, e eu sou um deles.
Claro que eu fico contente quando vejo, por exemplo, alguma banda formada por amigos, e são tantas, conseguir se destacar e com muito esforço passar a fazer shows para outros tipos de público, mais abrangentes, gravar um cd (hoje em dia já nem sei se sonham com isso, por causa do mp3 e da internet), começar a ganhar uns pilas com sua arte. É bacana, inegavelmente. Mas eu que não sou músico já vejo por outro lado, o de cara que conhece umas paradas bem exclusivas e que se sente roubado quando a manada descobre aquele biscoito fino que até então só você e mais meia dúzia de “pesquisadores musicais” (eta termo bonito, sô!) conheciam o sabor.
Podem chamar de egoísmo que eu não me importo, mas às vezes o anonimato é o que preserva a identidade de certos artistas. Ora, uma vez que se tornem conhecidos e reconhecidos, passarão a ter uma cobrança maior e, dependendo do contrato que assinarem, serão obrigados a deixar que qualquer produtor metido a entendido manipule até mesmo o jeito de se vestirem e as respostas que devem dar em coletivas de imprensa. Será que vale a pena?
Sem contar que no meio dos cifrões o romantismo sempre se perde. Ou alguém aqui acha que atualmente, depois de tomarem várias pauladas na cabeça, as gravadoras apostam em novos nomes baseando-se somente na honestidade do trabalho e na divulgação da arte? Convenhamos, é a mesma coisa que insistir em crer na virgindade de Maria...
Então vamos combinar assim: o underground virou mainstream e todos estão satisfeitos... não, eu não aceitaria esse tipo de proposta! Nunca! Em Cachoeira, de fato, ele nunca existiu. Existiam pessoas ligadas em bandas e comportamentos mais alternativos, mas foram sendo cooptadas pelo sistema e pela mídia com o tempo, e sem maiores resistências. Restam poucos guerreiros, mas em número insuficiente para organizar de verdade uma cena pela primeira vez. Seriam os moleques de 11 ou 12 anos que hoje passeiam pela Sete usando camisetas do Simple Plan e do Nirvana os responsáveis pela construção de algo que aqui nunca existiu? Não levo muita fé, mas espero que me surpreendam e que, dentro de poucos anos, a gente possa viver o “udigrudi” por aqui e que não seja preciso atravessar a ponte do Fandango pra poder ter esse tipo de experiência de vida, que eu já tive fora, mas quero um dia experimentar do lado de cá das barrancas do Jacuí. A minha parte eu sempre fiz e continuo fazendo, esse evento mesmo que estou produzindo, Under Night, que rola dia 12 desse mês no Náutico, é mais uma “semeadura”.
Vamos ver se depois desse novo “plantio” a molecada vai saber cuidar do broto, até que vire tronco e dê frutos. Sim, eu sou teimoso. E que João Gordo nos abençoe!