
MARILIA
(Marilia Mayer)
Olhava daquela janela e o que via eram sorrisos, trocas, juntamente com o isqueiro para acender mais um cigarro. Aqueles olhos vermelhos que por vezes metiam medo eram os que choravam por piedade ao serem expulsos de casa. Aquelas pessoas que todos os dias esperavam seus pares sentadas no banco daquela praça escura e sem graça eram as mesmas que trabalhavam de sol a sol para conseguir um prato de comida. Estavam cansados de serem pegos, presos, maltratados e mesmo assim continuavam. Comodismo? Talvez; mas o que se sabe, ou melhor, o que se diz é que quem comandava o tráfico era o filho do presidente. Presidente que tentou colocar um pouco de ordem no país e que algumas raras vezes conseguiu, não conseguira fazer isso ao menos uma vez em sua casa. Corrompidos pelo sistema.Diz-se que era revoltado com o pai, o tal presidente, porque dedicava mais seu tempo para discursos para o país do que para um Bom Dia à seu filho. A mãe? Dizem que o casamento era fachada e que ela acudia o filho toda vez que ele chegava de porre em casa enquanto o pai dormia porque estava cansado.Nunca saberá se isso é verdade, se é mito. o que se sabe com certeza, é que aquelas pessoas sentadas em volta daquela fogueira, falando em voz alta e bebendo mais uma garrafa de vodca eram as que mais necessitavam de uma ajuda, as que mais trabalhavam, as que mais queriam uma mudança. Mas como tudo tornou-se normal, até mesmo a infelicidade, elas tentavam se acostumar a viver sobre os olhares suspeitos da vizinhança.
texto realmente muito bem escrito e liricamente agradável. boa perspectiva crítica! um abraço, M. Tatsch
ResponderExcluir*-* obrigada!
ResponderExcluirA escritora. uahauah