quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Conto da Vez

Hoje nós teremos um conto surpreendente escrito pela grande escritora Mariângela Padilha, que é Funcionaria Publica na cidade de Pouso Alegre em Minas Gerais. Seja bem vinda Mariangela e obrigado por nos brindar com esse conto magnifico.


CONTO DA VEZ

(Mariangela Padilha)

CILADA

O copo cintilava em cima da pia. Veneno de rato dissolvido em suco de laranja. Que idiotice! Que importava o gosto? Eu ia morrer mesmo. O telefone me tirou dos pensamentos.Guardei o copo rapidamente no armário.

-Alô. Querida? Fui promovido!Vamos comemorar...

Era Roberto, meu marido.Conversei com naturalidade, não podia decepcioná-lo, em seguida, desliguei. Ia preparar um jantar de comemoração. O suicídio ia ficar para amanhã.Desde que descobri que tinha Aids minha vida virou um inferno.Não podia ser um transtorno para a família. Roberto era um marido exemplar, meu filho Douglas, uma criança adorável e meu pai, o velho Alfredo, homem íntegro e amigo. Novamente o telefone.

-Alô.Dona Sonia Rebelo?


-Sim, eu mesma.Quem fala?

-Aqui é do laboratório Brasil. A senhora fez um exame de sangue há três dias. Os resultados foram trocados por um funcionário inexperiente. A senhora não está doente. Seu exame deu negativo.

Não escutei mais nada. Eu não ia morrer! Deus! Foi Deus que tirou aquele copo de minhas mãos.Fiz um jantar inesquecível.Filé a milanesa como Douglas gostava.Arroz de forno, batatas grelhadas, vinho tinto e musica romântica.Eram 23 horas quando finalmente eu e Roberto ficamos a sós.Olhares cúmplices, atrevidos, correria, nosso joguinho começara. Pega-pega, roupas pelos cantos, gemidos.Parecia a melhor de todas as noites. Nossa melhor performance!Amanheceu! Era domingo e o relógio batia dez badaladas. Olhei para o lado, Roberto já tinha levantado. Vesti o roupão branco e fui até a cozinha.

-Bom dia amor. Dormiu bem?

Ele me deu seu melhor sorriso.Meus três amores sentados à mesa do café.

-Olá papai, que bom vê-lo. Querido, por que não me acordou? Eu faria o café de vocês.

-Nada disso. Fizemos um bolo de chocolate. Venha, experimente. Está delicioso.

-Mamãe. Eu arrumei a mesa. É a toalha que você gosta.

-Senta filha, antes que o café esfrie.

Os copos limpos no armário.O armário...aberto. O copo. Deus! O copo de veneno em cima da mesa... Um restinho de líquido amarelo... Quase vazio... Vazio...

5 comentários:

  1. Muito bem escrito, simples e profundo, cada palavra na seu lugar exato, definidinho . =]. Parabéns, mas que final !

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  2. Rogerio Colombelli Mielke30 de setembro de 2009 às 07:22

    Só tenho uma coisa a dizer: To arrepiado...Parabensss

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  3. Simples e ao mesmo tempo intimista. Não é à toa que admiro tanto o teu trabalho...

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  4. M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O!!!

    CURTO, SIMPLES, INTERESSANTE...E...

    COM GOSTINHO DE "QUERO MAIS"...show!

    Camila Carrazzoni Mendes Ribeiro

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  5. Eu estou lisongeada de ter sido convidada a postar nesse blog tão interessante e feliz de ver tantos comentários.Que bom que gostaram!
    Parabéns pelo conteúdo do blog e pelo trabalho impecável que fazem por aqui.
    Beijos

    Mariângela

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