(Alessandro Ferrony)
A vila dos apedeutasHá muito, muito tempo atrás, havia uma pequena vila erguida às margens de um rio. Era uma vila simpática, seus moradores eram basicamente imigrantes e descendentes de povos europeus. Além das casas da vila existiam os campos, onde as pessoas semeavam alguns grãos. Plantavam para comer, basicamente. A tecnologia avançou e aos poucos aquela gente não se contentava somente com a subsistência baseada em sua produção agrícola.
Mercadores vindos de paragens distantes traziam as novidades e convenciam os habitantes da vila que o supérfluo era o necessário, cada vez que a visitavam.
Mas aquela prática mercantilista não acontecia só naquele lugar. A roda girou e as engrenagens de novos tempos fizeram com que aquilo se tornasse um padrão universal. Povos mais evoluídos conseguiam prosperar mais velozmente tendo como dínamo o comércio de sonhos, sensações e necessidades fugazes, quase sempre embaladas de forma compacta, geralmente em dose única.
Mas a vilinha banhada por aquele rio de águas calmas e caudalosas ainda demoraria um pouco mais do que o normal para estar a par de tudo o que era criado e usado na metrópole. Porém, aqueles que a visitavam, voltavam cantando em prosa e verso suas vantagens.
Justamente por isso alguns integrantes daquela quase tribo resolveram que era melhor levantar acampamento ou, ainda, dependendo da idade que tivessem, enviar sua prole em busca das atualizações disponíveis. A prática foi sendo repetida por muitas famílias durante décadas e décadas e, em dado momento, havia três vezes mais gente com raízes naquele lugar vivendo em outros rincões, e não mais lá.
Mas, mesmo essa gente vivendo sobre a terra que lhes pariu ou bem longe de sua manjedoura, uma coisa não mudava: a incapacidade de absorver conhecimentos, de aprender novas e boas lições, que pudessem aplicar onde quisessem, sem o egoísmo de querer represar conhecimento ou cultura. Não, nem isso. Quem dera aprendessem algo e não passassem adiante, seria dos males o menor. Aquela turba de famélicos intelectuais até tentava de alguma forma tomar ciência de várias coisas, mas simplesmente não conseguiam, por mais que tentassem.
Eles iam, eles vinham. Ficavam mais e menos tempo, tinham mais ou menos soldo. Alguns até conseguiam enganar seus pares e semelhantes, mas por pouco tempo. Mas nunca conseguiram de fato evoluir. Nem mesmo por osmose seria possível. Por mais que tentassem. Não conseguiam. Nada aprendiam. Por mais que tentassem. Nem mesmo se nascessem de novo, ou fossem reinventados. Por mais que tentassem.

Parabéns pelo texto e pelo seu aniversário !!
ResponderExcluirBelo texto, fiquei até com sono!!!
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