sexta-feira, 9 de outubro de 2009

XIS
(Leticia Pereira)

Não saia com ele!
Uma bela manhã de quinta-feira. Eu pensava na vida me aquecendo no solzinho do campus da faculdade, enquanto meu ônibus não chegava. Comecei então a observar os meus companheiros matadores de aula: um cara de jaleco branco, com ar desesperado lendo um livro enorme “deve fazer medicina”, pensei (mas poderia ser qualquer coisa: farmácia, estética, fisioterapia, enfermagem, ou ele poderia simplesmente gostar de roupas brancas) e duas meninas que falavam alto, com aquele ar inconfundível, aquele que as mulheres fazem quando estão fofocando.

Não resisti. Tirei os fones do ouvido e comecei, sutilmente, a ouvir a conversa delas (não me julguem). A loira e a ruiva. Obviamente estavam falando de homens, roupas, homens, festas e homens. A ruiva então perguntou: e o *João? A loira então fez aquela cara de assassina, aquela que as mulheres fazem quando estão prestes a falar mal de alguém e bem na hora que foi responder... Um colega veio perguntar qual alternativa eu tinha marcado na questão numero 9 da prova de Filosofia. Depois de responder que eu não lembrava (mentira eu lembrava sim) voltei minha atenção as duas meninas e ouvi a loira dizendo: “Ah, desisti. Achei ele no não saia com ele.” Não saia com ele? A ruiva perguntou. É! O site, respondeu a loira.
Já era 11:15. Hora de voltar pra cidade. Levantei, limpei a bunda, peguei a bolsa e fui para o estacionamento, para a guerra diária por um bom lugar no ônibus (na janela e do lado que não bate sol). Durante a viagem inteira, as palavras da loira ecoaram na minha cabeça. Site? Não saia com ele?
Quando cheguei em casa “fui” no Google, e digitei as palavras mágicas: não saia com ele. Bingo! Lá estava. O site é fantástico (para as mulheres claro). São depoimentos mandados por garotas de todos os cantos do Brasil contando as experiências com caras que, de acordo com elas “não valem nada”. As histórias são diversas: caras com várias namoradas, que beijam mal, que são “ruins de cama”, que fedem, que bebem, que traem e todas essas qualidades juntas. E mais, as meninas mais ousadas (ou seria mais magoadas?) até mandam fotos, e o perfil do Orkut deles. O site é super bem organizado,com termos de uso, que “evita vocabulário jurídico desnecessário” (não é brincadeira), tem uma ferramenta de busca: dá pra digitar o nome do sujeito e ver se ele tem mesmo a ficha limpa. Afinal, se a polícia mantém um arquivo para busca de antecedentes criminais, porque nós não podemos consultar os antecedentes de nossos queridos antes de entrar numa roubada? Tem endereço para contato, e até um e-mail especial onde os “ofendidos” podem reclamar, ou se defender.
O que me decepcionou foi que a última postagem foi feita em 2008. Ou os caras mudaram e nós não temos mais do que reclamar, ou o site foi tirado do ar, pensei. Adivinhem a resposta? Descobri (no meu amigo Google) que o site foi proibido pela justiça do-não-sei-o-que-lá de fazer novas postagens. Com certeza uma menina saiu com um palhaço “influente” que acabou com a diversão de milhares de garotas.

*Os nomes foram modificados para preservar a identidade dos envolvidos.

Um comentário:

  1. G-E-N-I-A-L! Finalmente nós estamos começando a nos tornar uma classe unida...

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